sexta-feira, 26 de junho de 2015

Entendendo o que já havia sido dito.

"Eu sou uma pessoa difícil. Não me relacionaria comigo mesma".

E foram essas uma das primeiras palavras trocadas entre mim e ela.
Ou melhor, umas das primeiras coisas que ela resolveu, por qualquer motivo, verbalizar para mim.

Vamos à minha inocência: é claro que eu, como boa canceriana, quase zero-pé-no-chão, entendi tudo isso como - Ah, é só questão de tempo e as coisas mudam.

FUEN. Erro 404. 
Deveria estar na constituição uma coisa dessas. Deveria ser crime achar que mudanças são fáceis assim. As pessoas deveriam ser punidas ao acreditar nisso. Doeria menos, acredite.

Exatos 2 meses depois, estou aqui.
Eu que comecei com aquele discurso de 'não quero nada sério também', 'eu tô de boa', 'vamos curtir, uhu!'. 
É, eu sou uma falha.

Vamos lá. Hora de culpar a astrologia por isso.

Nasci às 3 horas e 40 minutos do dia 6 de julho de 1991, em São Bernardo do Campo, o que faz de mim, pelo meu mapa astral, uma Canceriana, com ascendência em Gêmeos e lua em Áries.
Sem contar meu Mercúrio, Marte, Vênus e Júpiter em Leão.
Urano e Netuno em Capricórnio.
Plutão em Escorpião.
Saturno em Aquário.
Descendente em Sagitário.
Meio do céu em Peixes.
Fundo do céu em Virgem.

E o que significa tudo isso? Talvez nada. Sei muito pouco. Mas vou tentar explicar com o modo com o qual EUzinha me vejo. 
Mas vamos lá. Começarei com a descrição de como eu descobri que não gostava apenas de meninos (parece uma baita enrolação, mas colocando isso aqui talvez eu tenha mais clareza sobre o grande 'problema' em que me encontro neste momento).

Lá pelos anos de 2004, na sétima série, aos 12 anos de idade, eu tinha uma amiga (ainda tenho, mas a gente se fala bem pouco - uma vez a cada 6 meses e olhe lá) canceriana, e éramos muito próximas. Passávamos os intervalos e às tardes na escola juntas. Eu era realmente muito apegada à ela (leia-se quase possessiva porque morria de ciúmes de vê-la com alguém) e para vocês terem uma noção, a mãe dela tirava o telefone da tomada para eu não ligar para ela porque a gente passava mais de duas horas falando sobre nada.
Hoje eu olho pra trás e penso: A mãe dela era tão religiosa. Certeza que achava que eu estava apaixonada pela filha dela.
Mas eu realmente estava?
É aí que a Elise, a própria amiga, entra.
Ela foi quem me fez perceber que tinha algo 'errado' em mim.
Um pouquinho mais pra trás na minha vida, lá pelos 4 ou 5 anos, eu já apresentava sinais de que meu apego a pessoas do sexo feminino era bem maior do que às do sexo masculino. E posso enumerar diversas situações em que minha mãe teve que me tirar aos prantos de perto de alguma coleguinha porque eu queria ficar grudada nela. 
E as mulheres mais velhas não escapavam também não. Quando eu admirava alguém, meudeusdocéu, eu sofria para me desapegar. E minha pobre mãe sofria junto, sem entender.
Dentre todas elas: minhas amigas, amigas do meu irmão, monitoras de hotéis, primas, conhecidas... Todas que você pode imaginar.
Parece banal, né? Mas não.
Era basicamente assim: eu conhecia alguém, admirava aquela pessoa, automaticamente me sentia conectada, grudava nela, queria saber tudo sobre ela, imitar, ficar junto, e sofria quando a separação chegava. 
Se eu falar pra vocês que isso acontece até hoje, vai rolar uma preocupação? I'm sorry. It does happen.
Acho que já deu pra perceber como funciona, né?
Agora vocês perguntam: comé que isso te faz pensar que o problema são as mulheres?
Bom, apenas o fato de que nunca tive esse 'apego' todo com meninos, apesar de saber que eles me atraem desde bem novinha. Mas agora eu continuo...

Colocando todos os fatos mencionados acima à frente dos meus olhos, aos 12 anos, eu comecei a entender: eu gosto de meninas.
E se não fosse a Elise para sentar comigo e dizer 'o que tem de errado nisso? Eu não gosto, mas você pode gostar. Para de chorar. Não tem problema nenhum', talvez hoje eu não seria a pessoa que sou e não teria a mente aberta que tenho. Obrigada, Elise!
A vida continuou. Cheguei a me atrair por uma série de meninas, mas, aos 12 anos eu não fiz nada com isso. Continuei alimentando minhas paixões platônicas por meninos.

Aos 13 anos, saiu um boato na escola de que eu era lésbica. E eu me ofendi. Muito.
Ficaram dizendo que eu era super grudenta com a Elise, e queria ficar com ela.
Apesar de ter essa dúvida, invés de assumir que poderia ser isso, resolvi ficar relutante, brava e chorar. Mas sem ninguém saber. Se tem uma coisa que minha mãe ensinou foi: para uma boa provocação o melhor é fingir-se inatingível.
E foi o que fiz. E todos pararam. Pelo menos na minha frente.

Também aos 13 anos, eu tinha 2 amigas próximas. A Tamires e a Thaíse. A Thaíse tinha muito ciúme da Tamires e, um dia, me disse 'você parece lésbica do jeito que trata a Tamires!' e eu fiquei hiperofendida. Nossa, foi tipo o segundo fim do mundo pra mim. O primeiro, como podem imaginar, tinha sido o boato para toda a escola.
Agora, além de pessoas maldosas me pensarem lésbica, minhas amigas mais próximas achavam isso também!
Doeu. Chorei. Mas era um pouco verdade, não?
Bola pra frente.
Nunca deixei de me atrair por meninas, mas já não era o foco.

Aí vem a coisa mais engraçada e curiosa de todas.
Layla, minha melhor amiga da infância, me convidou para um passeio. E eu fui.
Dentro do ônibus, na hora da volta, eu a abracei e disse o quanto gostava dela.
Depois disso, soltei e pensei 'céus, o que eu tô fazendo? Ela vai pensar que sou lésbica'.
Hoje rimos muito disso porque Layla é lésbica assumida. E eu? Bom, eu continuo com a minha história.

Minha vida adolescente foi cheia dessas particularidades, até os 16 anos.
Essa foi uma data marcante. Dessa não dá pra escapar.
Uma das minhas melhores amigas da época, Letícia, e eu vínhamos conversando sobre ficarmos. Sei lá, um teste, sabe? Ver se eu gostava mesmo. Tirar a dúvida. Vai que era mentira, né? Coisa de adolescente. A famosa 'fase' que os pais insistem em mencionar.
Voilà. Numa festa da minha escola, fui pro banheiro com a Letícia e ela jogou a ideia 'vamos nos beijar?'. E eu aceitei. 
O tanto que eu tremia não tá escrito. E ela ria da minha cara. 
Fui lá, fiz, gostei. Voltei a ficar com a Letícia mais umas várias vezes. E eu tive certeza de que gostava da coisa.
Até namoramos por 3 dias. 
Ela é outra que me ajudou a entender muito bem onde todo esse negócio começou. Obrigada, Le.

Depois disso, não preciso dizer que tive certeza absoluta de quem eu sou, né? Odeio rótulos. 
Aliás, acho que boa parte dos bissexuais que conheço os odeiam.
Vocês, homossexuais, acham que sofrem preconceito? Sofrem, sim, mas nada comparado ao (muitas vezes) assédio pelo qual os bissexuais passam.
Quantos de vocês acreditam (de verdade) em bissexualidade? Bem poucos, aposto.
Hetero e homossexuais não entendem e não sentem na pele o que é ser um bissexual.
Quantas vezes tive que ouvir 'você tem que se decidir', 'do que é que você gosta de verdade?', 'de qual você gosta mais?'. E, apesar de muitas vezes não ser por mal, machuca.
Machuca porque é como se as pessoas duvidassem dos seus sentimentos. Achassem que você faz aquilo por pura safadeza. Por falta do que fazer. Por se sentir carente.
BITCH, PLEASE. Pare com isso. Apenas pare.
Incrível, né? Homossexuais, que passam por tanto preconceito, não têm dó não (sem generalizar). Acham ruim mesmo. Querem ser exclusivos, talvez.

Muitas vezes desejo ter nascido heterossexual. Ou até homossexual.
Desejo ter nascido gostando de uma coisa só. Seria mais fácil. Ou não.
Daí eu volto e percebo que gosto de ser assim. É divertido. É interessante. E bem particular.



Amor é amor. E não importa por quem.


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nada de muito interessante. só alguém que não vive sem música e sem amor.